Por ser considerado o país mais rico da América do Sul, o Brasil tornou-se um motivo de esperança para muitos imigrantes sul-americanos. Estima-se que atualmente o número de imigrantes residentes no Brasil chegue aproximadamente a 200 mil, sendo que 40% deste total residem na cidade de São Paulo.
Destacam-se entre estes estrangeiros, os imigrantes bolivianos. Dados recentes divulgados pelo IBGE apontam para a existência de 21.679 bolivianos residentes na cidade de São Paulo, tendo sua maioria concentrada sobre a área central da metrópole, vivendo em condições precárias em relação à qualidade de vida, trabalho e principalmente saúde.
Devido às precárias condições de vida, diversas enfermidades surgem entre estas comunidades, tendo a tuberculose como a principal. A doença atinge números alarmantes entre os imigrantes, chegando a 58% do total dos pacientes em tratamento. Em um estudo realizado nos distritos do Belém, Bom Retiro, Brás e Pari o aumento da doença na comunidade boliviana é assustadora. Nos últimos dez anos, a patologia aumentou 250%.
Apesar do fácil acesso aos serviços públicos e com uma taxa de cura de 80%, estes números exigiram um estudo mais aprofundado sobre o caso. Por isso, em 04 de setembro de 2015, o CEALAG financiou um projeto denominado de “Estudo Etnoepidemiológico sobre a Tuberculose entre Imigrantes Sul-Americanos: Contribuições à Análise das Condições de Vida, de Trabalho e de Saúde de Imigrantes Bolivianos na Cidade de São Paulo”, visando à construção de um conjunto de informações sobre estes imigrantes residentes no centro da cidade de São Paulo, tendo como foco o bairro da Barra Funda.
O distrito da Barra Funda foi escolhido pela presença marcante de imigrantes sul-americanos, dentre eles os bolivianos cuja presença numérica ganha destaque no quadro migratório da cidade.
Todo o processo metodológico do estudo foi estruturado em três frentes. Inicialmente, foi realizada uma análise epidemiológica dos casos de tuberculose ocorridos entre estes imigrantes, contando com a utilização do TBWeb, um sistema disponibilizado pela Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo, que realiza o monitoramento e a vigilância epidemiológica dos casos de tuberculose. Em seguida, ocorreu o georreferenciamento e análise espacial, onde foi empregado o uso do “Sistema de Informação Geográfico” (SIG) além de mapas de localização de pontos, de padrão e de superfícies de densidade. E por fim, a realização do estudo etnográfico em domicílios e oficinas de confecção, que buscou informações mais precisas sobre o processo saúde-doença em tuberculose e as condições de trabalho.
Com uma duração total de dois anos, o projeto obteve resultados significativos, o que permitiu ampliar de maneira relevante os conhecimentos acerca dos processos de adoecimento por tuberculose entre os imigrantes sul-americanos. Tais conhecimentos podem contribuir com a melhora de politicas e serviços de saúde, em particular os serviços de atenção primária.
Considerado um sucesso, o estudo contou com a coordenação do Prof. Cássio Silveira (FCMSCSP), Profa. Denise Martin (UNISANTOS-UNIFESP) e Prof. Alejandro Goldberg (Universidad de Buenos Aires-CONICET).